Como estamos no mês do Tradutor, uma vez que o Dia Mundial do Tradutor se comemora em 30 de setembro, vou iniciar as postagens deste mês com uma crônica que escrevi há algum tempo sobre as "venturas e desventuras" dos profissionais da tradução.
Sou da
época em que se traduzia com máquina de escrever, e imaginem o sufoco para se
alterar alguma coisa, havendo só o “branquinho” como recurso. Depois, houve um
tempo em que, sem grana para um computador, eu fazia as traduções à mão para,
em seguida, serem digitadas na editora. Pobre do calo do meu dedo. Era bem ao
estilo do nosso padroeiro, São Jerônimo, e ele nem sequer contava com a
sofisticação do papel e da caneta de hoje em dia. Mas adoro meu trabalho,
apesar dos percalços.
Amo traduzir e me dedico como se os livros fossem
meus, para que o autor saia o melhor possível na “fita” em português também.
Inevitavelmente, fico mortificada com os eventuais deslizes. É triste depois de
traduzir, pesquisar, conferir, ler, reler, você deparar com alguns erros na
tradução após ter sido entregue. E publicada, então! Faço o máximo possível,
mas, às vezes, de tanto ler algo, a gente simplesmente não enxerga o erro. E,
de vez em quando, aparece cada coisa para lá de esquisita para pesquisar!
Já deram de cara com aquelas palavras inventadas,
termos que o autor quis usar de um jeito particular qualquer, regionalismos,
marcas de produtos que ninguém nunca viu mais gordas, trocadilhos que têm de
fazer sentido em português, poemas que têm de rimar e tantos outros detalhes?
Sem mencionar quando o micro resolve não cooperar muito e surge o tal “erro do
programa”, ou coisa parecida.
Prazos apertados. Novas regras de ortografia
para assimilar. Trabalhar em casa, que é ótimo, mas com mil e uma coisas
pressionando em volta. Folgar na segunda-feira e trabalhar no final
de semana quando os outros estão passeando. Ler sobre assuntos sobre os quais
jamais se leria em outras circunstâncias, para fins de pesquisa. Trabalhar à
noite com aquela baita dor nas costas, olhos ardendo, o sofá acenando por
perto. Não poder ver sangue e ter de descrever cenas escabrosas, deitar por 30
segundos até o mal-estar passar e voltar ao computador. E, agora, para ficar
tirando o trema que aparece automaticamente? Lá vai o Ctrl+U. Ou existe outro
recurso para isso? Sei, sei, os novos revisores ortográficos. E dominar o uso
dos hífens, que já não eram bolinho antes!
Bem, são
os “bones” do ofício, se me permitem o neologismo tosco. De qualquer
modo, meu velho micro mais recente deu PT (Perda Total) um dia desses e tive de
comprar outro, novinho em folha, uma pintura de moderno. Finalmente, alcancei o
século 21.
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