segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Alguns Comentários Sobre Tradução:

É preciso que o profissional da tradução (formado em Letras/ Tradução ou não, uma vez que a profissão não é regulamentada) seja bem preparado em vários aspectos, especialmente no português, além do idioma(s) estrangeiro(s), naturalmente. Imagine a seguinte situação:


● Você tem um mês para traduzir um livro, dependendo de cada caso.
● Esse livro fala sobre vários assuntos, sendo que de alguns você entende mais, de outros menos, como todo mundo. Então, tem de pesquisar muito.
● Há também vários termos nesse original cuja equivalência em português é difícil de encaixar.
● Para dar conta do prazo, você trabalha de dia e, às vezes, à noite e até aos sábados e domingos, tendo de usar muita disciplina para criar e cumprir seu próprio “horário de expediente”. (Com o devido respeito, talvez seja também por isso que São Jerônimo é representado “acabado, só o pó” na maioria das imagens que vemos...)
● Em muitos casos, a tradução não vai passar por um revisor técnico. Além de algumas eventuais mudanças de uma palavra ou outra, praticamente só a gramática e erros de digitação serão corrigidos na revisão.
Assim, uma das primeiras dicas que dou (ou ao menos algo que faço sempre) é:
√ Faça você mesmo uma revisão prévia da sua tradução. Pode parecer cansativo, mas faz parte do processo.
√ Depois que você terminou de traduzir e mudou o que precisava e arrumou tudo o que tinha de arrumar (lacunas que deixou para pesquisar depois, etc.), ou seja, depois que o texto traduzido ficou pronto, leia-o inteiro com atenção.
√ Não chamo isso exatamente de revisão, mas de "conferência". Com certeza, você terá a chance de arrumar erros, notar imprecisões, falhas, etc., que passaram despercebidos antes.
√ Claro que os revisores fazem isso em seguida e são excelentes profissionais, donos de infinita paciência, corajosos em assumir tal responsabilidade, e têm grande conhecimento.
√ Mas, ao conferir seu próprio trabalho, você o está deixando mais limpo, preciso, diminui a chance de que saia com erros e deixa bem claros pontos que talvez nem o revisor percebesse se não estivessem tão adequados, pois não foi ele quem traduziu.
√ Claro que alguma coisa sempre passa (e é aí que contamos com o revisor), porque acontece às vezes que, de tanto lermos e relermos a mesma coisa, simplesmente não "enxergamos" o erro. E há também aqueles casos em que o revisor tem a visão mais apurada para deixar frases suas ou termos com melhor sentido, ou mais bem elaborados. É natural. Faz parte do trabalho em equipe.
√ Mas a primeira responsabilidade para com a tradução é sua, tradutor. Afinal, quem leu o original, quem "praticamente entrou na mente do autor", por assim dizer, e captou todas as nuanças do que ele queria dizer, quem está transmitindo inteiramente isso com suas próprias palavras ao leitor, até mesmo como um coautor (sempre fiel ao autor), é você, tradutor.
√ É o seu nome, tradutor, que é publicado na obra e é você que ganhará os louros por seus esforços, ou é você que será criticado por seus eventuais tropeços depois que a obra tiver sido publicada.
√ Afinal, geralmente é assim em todas as profissões. Pergunte aos goleiros. Mil defesas espetaculares e um "frango" catastrófico. Adivinhem o que será mais comentado, pelo que eles serão lembrados? Mas são os ossos do ofício.


Cumprimento todos os meus colegas tradutores que bem sabem quanto nossa jornada é árdua, mas também imensamente prazerosa.